terça-feira, 10 de junho de 2008

Estrangeiros tratam Aids de graça no Brasil

Num consultório de Assunção, uma infectologista dá nome e endereço de uma colega brasileira a um paciente soropositivo doente de tuberculose e desacreditado de que fosse sobreviver no Paraguai. "Procure a doutora Denise Lotufo em São Paulo", disse.

Depois de 20 e poucas horas de uma viagem de ônibus, ele desembarca no CRT (Centro de Referência e Treinamento), um ambulatório da rede pública especializado em HIV/Aids.

Lá, recebe tratamento gratuito e todos os medicamentos anti-retrovirais, o chamado coquetel, que não é fornecido pelo sistema de saúde paraguaio.

Assim como esse paciente paraguaio, que por viver clandestinamente no Brasil pede anonimato, ao menos 1.209 estrangeiros vêm e voltam ou vieram e vivem no Brasil para receber tratamento gratuito contra a Aids, de acordo com o Ministério da Saúde.

Só em São Paulo, que registra o maior número de casos de HIV no país, são 503 deles. No Rio de Janeiro, há outros 242.

Os números, no entanto, estão subavaliados: nem todos os centros de distribuição de remédios estão integrados ao sistema informatizado da pasta.

Segundo Eliana Gutierrez, diretora da Casa da Aids, no ambulatório do Hospital das Clínicas há dois cenários: enquanto alguns estrangeiros migram para receber tratamento gratuito, outros, que descobriram ser portadores do HIV por aqui, não deixam o país para não perder o benefício.

"Isso desperta paixões nos pacientes brasileiros, que sentem que a pátria e eles são lesados", afirma Gutierrez.
"Se esses estrangeiros estão no Brasil legalmente ou ilegalmente, essa não é uma questão que vamos atrás", diz Mariângela Simões, diretora do programa de Aids do ministério.

Liderança

Na lista das nacionalidades atendidas, Portugal e Argentina aparecem na liderança, com 181 e 158 pacientes, respectivamente, que recebem o coquetel anti-Aids no país.

Além disso, revela Simões, o Brasil trata 3.500 bolivianos na Bolívia e 1.100 paraguaios no Paraguai, ao doar medicamentos a esses países.

Por ano, cada paciente tratado no Brasil custa, em média, US$ 2.500 (ou R$ 4.075) ao sistema público de saúde.
Infectologista do CRT, Denise Lotufo, que virou referência no Paraguai por dar treinamento a profissionais de lá, começou a estudar espanhol para atender pacientes daquele país.

Hoje, ela acompanha o tratamento de dez paraguaios. "Dois deles passaram a morar no Brasil." Os outros vêm e voltam entre três e quatro vezes ao ano para retirar remédios e fazer exames de rotina, como a contagem da carga viral e das células do sistema imunológico.

Alguns países como EUA, China e Colômbia, que estão entre as nacionalidades atendidas gratuitamente no Brasil, proíbem a entrada de portadores do HIV, mesmo que seja a turismo e por curto tempo.

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