segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O Jornalismo e o FM

Na década de 80 o Brasil vivia um período turbulento.

Recém saído da ditadura militar, inicio da redemocratização, economia absolutamente instável com inflação chegando a superar 80% ao mês.

Ninguém sabia o valor de nada no dia seguinte; do salário ao cafezinho.

Esse clima de instabilidade produziu alguns fenômenos : Naquele tempo pré internet, o jornalismo servia de oráculo para a maioria das pessoas. Eram os jornais, revistas, rádios e tvs quem anunciavam os índices que regulariam a vida no dia seguinte.

Por outro lado os ares eram diferentes. Sem o fantasma da censura, bandas novas surgiram com seus solgans contestadores que iam da política ao romance. Adicione a isso a novidade do FM (que teve início na década anterior) com sua comunicação moderna, som melhor do que o AM e musica, muita musica.

Isso fez com que as gravadoras percebessem a força do rádio e investissem pesado até meados dos anos 90, quando a musica se tornou acessível por outros caminhos.

Mas estávamos falando sobre o jornalismo.

A preocupação com os rumos da economia ainda direcionavam as atenções ao que acontecia em Brasília, a possibilidade de novos planos, moedas e surtos de messianismo no Planalto Central.

Mas felizmente na década seguinte o monstro da inflação foi dominado, o país parecia finalmente caminhar para um clima politicamente mais estável e com isso o foco da preocupação mudou.

Agora, já em tempos de internet, as pessoas estavam mais expostas a tudo o que é tipo de informação: das que vinham de Brasília, ao novo lançamento de uma banda pop; da imagem denunciando um político corrupto, aos flagras dos paparazzi de "celebridades" tomando banho de mar.

Teoricamente sabendo como seria a vida amanhã, os "consumidores de informação" foram relaxando na mesma medida em que mudavam seus interesses.

Até por conta da maior exposição à informação, as referências foram mudando, inclusive na questão estética. Se antes bastava o locutor com voz empolada lendo os mais novos índices econômicos, agora o jornalismo precisava de cara, som, cor, movimento,identidade e empatia. Não bastava a busca pela credibilidade, mais do que antes, a preocupação era parecer confiável.

Aumentou a preocupação com a prestação de serviço, com os problemas do dia a dia e com a necessidade de atrair um novo público, com outras referências, muito mais expostos a tudo o que é tipo de informação.

Enquanto isso, o rádio FM perdia força. As músicas deixaram de ser o "carro chefe" a medida em que se tornaram acessíveis por outras mídias, as gravadoras quebraram e deixaram de investir e o caminho pareceu estar na busca por conteúdo.

Foi nesse tempo, com a economia se estabilizando, mudando as referências de quem buscava no jornalismo o oráculo do dia de amanhã, com a internet abrindo uma outra janela gerando um novo olhar - onde a estética aumenta sua importância na informação- com as FMs começando a pensar em conteúdo além da música, que criou-se a condição ideal para que o jornalismo ocupasse mais espaço no FM.

Em São Paulo a CBN abriu as portas, ainda que no primeiro momento tenha enfrentado dificuldades, alimentou-se desse ambiente e criou um novo mercado.

Mais de uma década depois da estréia da primeira rádio all news em FM em São Paulo, fica evidente que esse se tornou um caminho irreversível, inclusive no sentido da segmentação.

Rádios como a Sul América trânsito indicam que o jornalismo tende a ocupar espaços cada vez mais segmentados, entrando em brechas onde o poder público deveria, mas não ocupa, gerando um ambiente cada vez mais favorável a prestação de serviços.

O jornalismo não é a salvação do FM, mas parece que cada vez mais preenche sua necessidade de conteúdo.

Por outro lado, o FM não é a salvação para rádio jornalismo, mas com o tempo- não só pela qualidade do som- contextualiza a informação em outro ambiente, utilizando-se das ferramentas que antes eram exclusivas do rádio jovem e comunicativo, a Viva News da serra gaúcha é prova disso.

Para onde esses novos ventos nos levarão ninguém sabe, mas o importante é percebermos o fenômeno, entendendo que esse é apenas o início de um processo de, em nome dos novos tempos e da busca pelo seu público ideal, todos se reinventam e reescrevem suas histórias.

Para o bem do rádio. Pelo bem da informação.

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