sábado, 26 de setembro de 2009

O Rádio está doente: e você pode ter culpa nisso

“ Na sua boca eu viro fruta
Chupa que é de uva
Chupa, chupa
Chupa que é de uva...”
Chupa que é de Uva – Aviões do Forró.

“Senta que é de Menta, Senta que é de Menta
Tchaca Tchaca, Vuco - Vuco, Será que você agüenta ?
...
Hoje eu vou fazer um Big - Brother
Funk, Forró e Pagode
Lá Dentro do meu apê
Só eu e você
Vai ter BBB
Hoje a minha cama é um paredão, sem anjo, sem salvação
E eu já indiquei você
Vou botar pra descer, vou botar pra descer ...”
Senta que é de menta – Cavaleiros do Forró.

(*) Nada a comentar ... o meu estômago embrulhou ...


O Rádio está doente: e você pode ter culpa nisso.

O assunto pode assustar, mas é sério. O que antes era algo quase irrelevante, hoje já movimenta inúmeras discussões entre profissionais e ouvintes da região.

Mas, aquilo que tinha apenas aspecto local, se juntou a um fenômeno nacional ( pra não dizer uma catástrofe ) de consequência altamente preocupante : estão matando o radio brasileiro.

O que antes era desconfiança, depois de algumas pesquisas realizadas e análises de outros especialistas em radiodifusão, passou ao efetivo temor que me fez assumir a postura de deixar o campo teológico de lado e partir para uma ação mais efetiva e contundente para cobrar responsabilidades de todos os setores envolvidos direta ou indiretamente nos destinos da radiodifusão brasileira.

É visível a queda de importância do radio no cotidiano das pessoas, seja pelo avanço da tecnologia, que deveria ser um aliado do radio e não um inimigo, quanto ao desinteresse cada vez maior do público pelos formatos uniformes e previsíveis atualmente executados, que buscam padronizar públicos distintos e excluir quem não se enquadrar nisto.

É hora de cada um assumir a sua responsabilidade, deixar o ego de lado e preservar um dos principais veículos que melhor representa e acompanha a sociedade brasileira.

Gravadoras: Antes, um divulgador e promotor de talentos variados. Hoje, em nome do controle de custos, resumem o casting a pouquíssimos artistas, todos devidamente batidos e misturados em liquidificador e distribuidos para rádios de mesmo formato ( algo cada vez mais comum ), e estrangulando outras que busquem outro segmento, tornando-se inviáveis.

Artistas: Com o tempo, acabam cada vez mais mansos e omissos como cordeiros frente às gravadoras, quando exigem inspiração artística, no mesmo ritmo de uma linha de produção, senão serão tratados como um “fora de linha”. E haja jabá nas rádios pra manter na prateleira produções de qualidade tão duvidosa. Não tem ouvinte que resista.

Mídia e Marketeiros: O rádio é a casa do artista. É lá que ele tem os primeiros contatos com o grande público. Mas hoje ele é o quintal da televisão e até da internet. Primeiro investe-se em qualquer fator polêmico e visual que desperte interesse comercial onde a questão musical torna-se meramente secundária. Vendeu na televisão e na rede? Toquem 10 vezes por dia no rádio.

Produtores musicais e de eventos: Cada vez mais os produtores musicais plastificam artistas promissores, apenas para enquadra-los “nos moldes do mercado” e serem a nova sensação de consumo no rádio, mesmo que isso sacrifique o seu talento. E dentro desta filosofia, os produtores de eventos resolveram inverter os papéis e passaram a exercer influência e comando sobre muitas emissoras, provocando inúmeras ingerências e bobagens. Para estes a ordem é: Rádio é feita para fortalecer o evento , e não o contrário.

Proprietários : É difícil, para a maioria destes, entender que é dono de algo muito mais complexo do que um boteco. Existem dois públicos para atender, o consumidor e o anunciante , nesta ordem. E entre eles está a comunicação, o entretenimento, e muitos fatores emocionais que fogem do entendimento de quem só sabe enxergar cifrões. Ninguém, em sã consciência, liga um radio somente para ouvir os comerciais. Trabalham para ganhar muito dinheiro, mas ignoram que é no investimento no fator humano, e não na tecnologia pra cortar despesas com pessoal, que reside o sucesso de público , de mercado e financeiro.

Grandes Redes de Radio: Mesmo com a sua grande contribuição para o rádio na qualidade e na tecnologia, as grandes emissoras, principalmente as jovens, pecam ao subestimar a inteligência do seu público. Em tempos de independência e interatividade, onde cada vez mais usam o mp3 player e a internet, por que insistem no famoso e restrito formato “Top 40” ( até em flaskbacks ) ordenado pelas gravadoras para fazer a programação diária de uma rádio? A maioria dos hd’s caseiros possuem mais músicas do que isto. Acabam descartando e reciclando público rapidamente e demonstram que não sabem o que fazer com o público que conquistou ao longo dos anos. Identidade não tem idade.

Gerentes de emissoras: Nesta conjuntura, está mais fácil ver as rádios serem dirigidas por gerentes de supermercado do que por radialistas. Estes são responsáveis diretos pelo grande balcão de acordos comerciais e políticos que virou o rádio brasileiro.

Pasmem, mas é comum, nos tempos atuais, encontrar rádios que deixam de lado as ações básicas de proximidade com o público e os anunciantes e usam como seu medidor de viabilidade econômica o público e o faturamento em shows promovidos pela emissora. Ficam tão perdidos e famintos por resultados à curto prazo que acabam construindo rádios desfiguradas, onde juram que são capazes de unificar públicos, gostos e bolsos tão heterogêneos, como se fosse uma grande gôndola de supermercado. Aliás, qual é o problema em haver públicos diferentes? Se não tem foco em um público, como podem atingí-lo?

Profissionais de Radio: Já fui testemunha disto e lí recentemente sobre o assunto: rádio vencedora é aquela que conta com profissionais de verdade que acreditam no formato e na proposta da emissora. Imagine o quanto é drástico para a credibilidade de uma empresa ter pessoas incapazes de passar confiança na qualidade do seu produto, como aquela recepcionista da rádio sintonizada em outra emissora enquanto trabalha ou então em casos mais bizarros, aquela viatura toda produzida, mas espalhando bem alto o som de outra rádio pelas ruas. Não tem meio termo: é demissão sumária.

Por essas e outras que o rádio e os radialistas dão demonstração de fraqueza e falta de seriedade.

Políticos: Responsáveis pela farra da distribuição de concessões de rádio, como se fossem doces em festa de São Cosme e Damião, principalmente no final dos anos 80 e início dos anos 90, mutilaram rádios AM, banalizaram e desvalorizaram a figura do profissional da área e deram outra conotação ao sentido da radiodifusão: valorizar a promoção política e tudo o que puder se aproveitar com isto, como os radiocandidatos, radiopastores, radiopromoters, radiocelebridades, radioportunistas e etc...

Geração Ctrl C + Ctrl V: Estes são mais vítimas do que protagonistas do problema. Em tempos onde ler, pensar e se comunicar parecem ser atos que exigem muito esforço e concentração, surge uma geração que não conhece a importancia do rádio. Para estes, qualquer locução atrapalha, e preferem o dinamismo, a energia e a capacidade de comunicação do seu mp3 player. O que é mais fácil? Ligar o notebook, conectar-se à internet paga e acessar a sua página favorita ou sintonizar um rádio? E cadê as rádios FM para eles ouvirem ? Mas é esta acomodação que traquiliza os que levam o rádio brasileiro para o buraco.

Se você, que está lendo este blog, se sentir dentro de uma destas categorias, não perca o seu tempo se sentindo ofendido; o rádio é mais importante do que qualquer ego ferido. Pense, reflita e discuta o assunto. A sua ajuda é decisiva se quiser realmente contar com o rádio como algo prazeroso, viável e duradouro.

Mas se você estiver do lado de fora de tudo isto, ainda sim estará no lugar mais importante: o de ouvinte. E é por você que devemos dar sentido à existência deste veículo maravilhoso: exercer a comunicação para sermos cada vez mais humanos.

Vida longa ao rádio. Sempre.


Sobe...

Rádios Web Jovem Pan. Pode até ser paradoxo o que vou escrever aqui, em relação ao tema desta coluna. Mas a Pan dá um exemplo de como a tecnologia é usada a favor da valorização da sua marca e do rádio brasileiro. Dentro da página da Classic Pan (ou Classic Hits, como queiram), existem links para a Jovem Pan Anos 80, Anos 90 e outras como aquela reservada para o lendário locutor Djalma “Tutinha” Jorge. Para os amantes da Pan e do Rádio, é uma forma muito bonita de mostrar, na íntegra, uma parte da história que prova por que ela é uma das mais importantes e tradicionais emissoras de todos os tempos no Brasil.

Em especial, a Jovem Pan anos 80, foi muito bem definida por ela mesma: não é uma rádio que toca flashback, mas sim uma rádio-flashback, pois ao ouvir cada música, cada vinheta, cada quadro de humor da época, retrata com fidelidade todo um contexto de época e como sabia ser tão importante, cativante e representativa na vida do seu fiel público.

São imperdíveis as performances cômicas como as do Pardini, Tatá e Escova e do Serginho Leitte, um dos locutores precursores do humor no FM, parodiando até com músicas de Agnaldo Timóteo. Era ponto alto da rádio na época.

Digo isto sem um pingo de saudosismo: o seu conceito de rádio é muito mais adequado, divertido e eficaz do que muito formato atualmente usado e DESAFIO quem queira provar o contrário.




Desce...

Coronelismo Sertanejo no FM – É impressionante como em pleno século 21, ainda tenhamos que conviver com práticas como o monopólio e o coronelismo no FM. Em um país tão imenso e diversificado, o que facilitaria a prática do rádio criativo e pluralista em opções, assistimos porém, a um festival de modismo e imposição cultural praticado pela onda neosertaneja através do desaparecimento cada vez maior de emissoras diferenciadas para dar lugar ao novo “ovo de Colombo” da radiodifusão, pra alegria dos adeptos do lucro fácil e esforço mínimo, mesmo se na sua praça haja outras 10 concorrentes no mesmo segmento.

Invadem TV’s, novelas e programas. Desrespeitam praças com outras preferências e avançam como grileiros dispostos a tomar espaços na marra e vender conceitos únicos e discutíveis, debaixo da hipócrita manta do “ouvinte sem preconceito”, mas quando isolam culturalmente uma região inteira, demonstram o verdadeiro preconceito, que é expulsar gerações de ouvintes e amantes do rádio sem direito de escolha. Assim o rádio vira terra sem lei: ou você consome ou se muda pras banda da intêirnet (sic).

Uma interiorização desnecessária da cultura urbana, que é muito rica, porém não satisfaz aos interesses econômicos de muitos figurões da mídia.

E não confundam: estou falando sobre a exposição excessiva e não sobre o gênero musical e seus apreciadores.

É cada um no seu quadrado. E tem lugar pra todos.

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