sábado, 30 de maio de 2009

Aconteceu em Curitiba e acontece no mundo todo!!

Ela cresceu cantando a música que fez muito sucesso na década de 70, cuja letra dizia: "Vem, vamos embora que esperar não é fazer, quem sabe faz a hora, não espera acontecer..." É claro que nem imaginava que era uma canção política, quase um hino para juventude da época que clamava por liberdade e era contra a ditadura. Para ela, era um chamado para lutar pelos seus desejos. Um impulso para não desanimar. Quando alguma coisa saía errada, respirava fundo e cantava o refrão.

Assim foi no colégio, onde driblava o sono, depois de um dia todo de trabalho como doméstica. Doméstica não! Escrava. Naquela época a trabalhadora doméstica era tratada como propriedade da família. Era só deixar de cumprir uma pequena tarefa pra ser achincalhada e ameaçada de ir para o olho da rua. Como morava na casa da patroa, não podia reclamar. Feriado, dia santo, domingo, isso não existia. Lavar, passar, cozinhar, era de sol a sol. Única regalia que desfrutava era poder estudar à noite, no colégio público. Pelo menos era o compromisso que tinham firmado com seus pais, no interior, quando a trouxeram para a cidade "grande" prometendo mundos e fundos.

A luta foi grande. Terminou o ensino fundamental já com mais idade que os demais. Depois foi para o ensino médio. Chegou ao fim do curso com notas razoáveis, angariando grande simpatia dos professores e dos colegas. Seu esforço era admirável. No dia da formatura na qual nenhum parente apareceu, os amigos fizeram uma "vaquinha" e pagaram uma pizza na lanchonete da esquina, para comemorar.

Depois foi o vestibular. Nossa, que pavor! Continuava estudando por conta, buscando livros na biblioteca do próprio colégio para reforço, contando com o apoio dos antigos professores. Conseguiu. Queria fazer Direito, lutar por justiça e pela igualdade entre as pessoas. Passou! Repetia o refrão da música com mais paixão do que nunca.

Na faculdade, dividiu apartamento com amigas. Deixar a vida de doméstica e partir para novos horizontes era seu grande sonho. Foi trabalhar como secretária em um escritório de advocacia. O dinheiro era pouco, mas seus gastos também não eram muitos. Dava para viver. Foi assim durante cinco anos de curso. Colou grau com louvor. Era reconhecida pelos amigos e professores como uma ótima profissional. Além do trabalho remunerado, ela também pegava causa dos menos favorecidos e os defendia sem cobrar nada. Ganhou fama. Era bem quista.

Certa tarde, saiu do xadrez de uma delegacia, onde tinha conversado com um de seus clientes, preso por tráfico de drogas. O rapaz prometia se emendar. Ela acreditava. Depois da visita, seguiu de carro para a Cidade Industrial, onde iria conversar com a mãe de outro preso. No percurso, um sujeito que parecia embriagado entrou na contramão e bateu no veículo. Ela desceu para conversar. Transtornado, o sujeito xingou a jovem, ameaçou, gesticulou e quando ela tentou argumentar, sacou de um revólver e atirou cruelmente. Cinco balaços no peito deixaram-na estendida numa poça de sangue.

Com o cano da arma ainda quente, recolocou-a na cintura e foi embora.

Ao chegar em casa, pediu à mulher mais um gole de pinga e contou o que tinha feito, vangloriando-se.

No dia seguinte, quando foi preso e levado à delegacia, soube que havia matado covardemente a advogada que defendia, de graça, o filho dele.

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