sábado, 16 de maio de 2009

Mãe Curitibana - pense nisso, mas pense agora!!!!

Lembro tão bem do perfume dos cabelos de minha mãe. Claros e ondulados, eles caíam sob os olhos quando ela costumava se abaixar pra me beijar no rosto. E o cheirinho bom, de sabonete comprado na farmácia, se espalhava pelo ambiente. Ela sempre foi uma mãe carinhosa e cheia de conselhos. Quando era bem pequeno, cercava-me de atenções e dizia para não ir à rua, porque o "velho do saco" poderia levar-me. Depois, quando comecei a frequentar a escola, acompanhava-me segurando pela mão, recomendando que não sujasse o guarda-pó branquinho e que obedecesse a professora.

Nas longas ausências do pai caminhoneiro, procurava preencher a lacuna que ele deixava. Não foram poucas as vezes que se sentou no chão para recortar papel de seda e colar na armação feita de paina madura - colhida no mato - usando cola feita com farinha de trigo. Habilidosa, fazia as melhores raias (pipas para quem não é curitibano) e saíamos às ruas, para empiná-las. Era diversão garantida! Nas noites de outono, céu estrelado, nós também nos deliciávamos ao soltar pequenos balões - os chinesinhos - para louvar as estrelas e os santos da época, Pedro, Antônio e João (nem me lembro se a era essa a ordem em que eles apareciam no calendário).

Minha memória olfativa está tão boa, que até o cheirinho da pipoca estourada com manteiga consigo sentir. Quantas e quantas vezes sentávamos no sofá desbotado, com a bacia de pipoca no colo, para contar as coisas do dia, falar das patetadas da família e rir escandalosamente das histórias mais engraçadas.

Quando começaram a aparecer os primeiros fios de bigode e a voz -maldita voz - ficava fina e ficava grossa descontroladamente, ela passou a alertar para os perigos da vida. Falou sobre as más companhias, sobre as bebidas, sobre a importância de estudar e de ser alguém na vida.

Incrível, ela fez tudo tão direitinho. E eu..,. eu..., bem..., fiz tudo muito errado. Lembro também das primeiras rugas de preocupação que provoquei ao redor dos olhos dela, quando comecei a chegar tarde em casa; quando furtei o primeiro carro; quando fumei o primeiro baseado. E ela foi murchando feito flor sem água a cada besteira que fiz. Os cabelos branquearam
e os olhos perderam a luz.

O corpo dela arcou-se, da noite pro dia, como se estivesse carregando nas costas todo o peso do mundo. Este peso sou eu.
Se pudesse voltar atrás; se tivesse uma única chance de reparar meus erros, me agarraria a ela com unhas e dentes, na esperança de outra vez poder ver seu doce sorriso.

Hoje milhares de filhos estarão visitando suas mães, levando flores e presentes, beijos e abraços. Eu também verei a minha, mas não posso presenteá-la com nada, além da vergonha de quanto a faço sofrer. Ela fica horas intermináveis na fila para entrar na cadeia, para me trazer um doce, um afago. Ainda me abraça. Vez por outra, me beija. Mas seus olhos estão opacos de tanto chorar. Num fio de voz, ainda me dá conselhos e diz que me espera em casa, de braços abertos, já perdoado.

Um dia, quem sabe....

Esta crônica é dedicada a todas as mães que amanhecem nas portas das penitenciárias nos fins de semana, faça sol ou faça chuva, numa concreta exibição do que é o amor incondicional.

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