terça-feira, 28 de julho de 2009

Que foi que eu fiz? ACONTECEU EM CURITIBA!!

Ele nasceu negro, pobre e cresceu analfabeto. Durante a primeira infância percorreu as ruas da cidade no carrinho de catar papel que a mãe empurrava a duras penas, seguida por mais uma penca de meninos esfomeados e por alguns cães, tão magros quanto eles, mas que consistiam na única alegria dos irmãos. Pouco se lembra desta época. Quando aprendeu a andar, deixou o lugar no carrinho para o outro bebê que havia recém-chegado, e seguiu com os demais, pisoteando o asfalto quente e as poças d'água.

Da escola pública não quis saber. Não conseguia aprender nada, nem mesmo a desenhar o próprio nome. Adolescente e perdendo os dentes, por falta de tratamento e higiene, com cabelos desgrenhados, pelos mesmos motivos, não tinha aparência boa e assim não arrumava trabalho.

Passando por vitrines coloridas, grandes shoppings (só via a fachada, porque não permitiam que entrasse), restaurantes de luxo e outros mais simples, dos quais também era obrigado a manter distância, Zulu não conseguia entender tais diferenças. Perguntava-se sempre o que tinha feito de mal ao mundo, para ser tão diferente dos demais. Afinal também sentia fome, frio, medo e ficava doente. Mas aos outros, isso pouco importava. Não passava de um farrapo humano, pedindo trocados nos sinaleiros.

Da família já não sabia mais. Afinal, tinha tanta boca pra comer no barraco, que a mãe deu graças a Deus quando ele sumiu. Sozinho, nas ruas, era mais fácil para ele se virar.

Não tardou para encontrar alguém que lhe oferece um dinheirinho, só pra fazer uma entrega. Coisa fácil, sem problema. Depois mais uma, e outra, e uma mais. Ganhou a confiança do sujeito e com isso, mais dinheiro. Já estava podendo fazer uma refeição por dia. Almejava conseguir duas e até tomar um refrigerante de vez em quando, para se sentir um pouquinho gente. Não sabia que tipo de coisa que entregava. Nunca lhe contaram. Mas as entregas eram feitas em casas de bacanas e pelas janelas dos carros de ricos que passavam pela esquina onde ficava. Sonhava em ser um deles. Afinal, sonhar não custa nada...

Certa vez, com uma pequena bolsa escondida entre a pele e a calça, recheada dos pacotinhos que tinha que entregar, passou por alguns policiais. Eles o mandaram parar para uma revista rotineira. Zulu colocou as mãos na cabeça e se deixou revistar.

Encontraram a bolsinha e os pacotinhos recheados de pedras de crack. Acusado de tráfico, não sabia explicar de onde as pedras tinham vindo. Sequer sabia o nome do sujeito que lhe mandava entregar a coisa para os grã-finos. Com medo, só pensou em correr. Perseguido, quis cruzar as ruas por entre os carros, driblando-os como um bom jogador de futebol (aliás era tudo o que queria ser na vida, se tivesse tido chance). Mas um biarticulado colocou fim em toda e qualquer história, boa ou má, que Zulu pudesse ter vivido. De cara no asfalto, com sangue jorrando pela boca, seu último pensamento foi: "Que mal eu fiz para o mundo?"

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