terça-feira, 4 de agosto de 2009

Ato secreto

Bons tempos os de outrora em que "ato secreto" era aquele em que o sujeito "pulava a cerca" e colocava um par de "guampas" na cabeça da mulher, ou vice-versa. As pessoas ficavam sabendo da traição e trocavam cochichos até não poder mais ou até que um dos "premiados" ficava sabendo e armava um barraco. O final era sempre imprevisível. Na maioria das vezes a mulher traída aceitava a situação. Afinal num Brasil machista e patriarcal, não se tinha muito o que fazer. Ele formulava um pedido de desculpa, um "nunca mais isso vai acontecer" ou ainda um "foi um deslize, não sei onde estava com a cabeça" e ponto final.

O povo esquecia aquele "ato secreto" e já se empenhava em descobrir outro, para continuar com as fofocas, diversão garantida para quem assistia tudo de fora. Mas quando era o homem que sentia o peso estranho na testa, na maioria das vezes o caso terminava na delegacia. Machão ofendido em seus brios ou matava a mulher ou matava o amante. E não foram poucos os episódios em que a própria Justiça tratava de dar razão ao assassino, acatando a ridícula tese da legítima defesa da honra. Para nossa sorte, isso mudou e esta tese já não é mais aceita nos tribunais (ela só valia para os homens, pura discriminação).

Mas, nos tempos de agora, "ato secreto" tomou uma proporção muito maior. Ele vem lá de cima, do Senado, e as "guampas" não vão parar na cabeça de uma única pessoa, e sim nas cabeças dos milhões de brasileiros que embasbacados estão tentando entender onde foi que erraram. Feito maridos e mulheres traídos, que ficam procurando uma desculpa para que aconteceu, o povão sua frio ao lembrar que trabalha quase cinco meses no ano para pagar impostos que são destinados a manter uma máquina de poder e luxúria para apenas uns poucos agraciados. Ora é a farra das passagens aéreas. Deve ter gente que levou até cachorrinho para passear nas Bahamas, afinal tinha uns "cornos" pagando as despesas. Ora é a contratação sigilosa de parentes e de afilhados de senadores, que também tratavam de aumentar os próprios salários e benefícios, tudo na maior surdina.

Não dá pra agüentar. O jeito é reagir. É não perdoar. Chifre assim nem Deus perdoa! Afinal eles são ou não são nossos empregados? Não estão lá para gerir os nossos interesses? Então que dancem conforme a música e não errem o passo. E que o Ministério Público Federal fique de olho, apurando tudo, tintim por tintim. O dinheiro levado na calada da noite, que seja devolvido. E que de secreto, no Congresso, no Senado, na Câmara fiquem apenas os comentários sobre as aventuras de alcova.

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