segunda-feira, 7 de julho de 2008

Sobre Roger, Roth, Rodrigo Mendes e o futuro azul

A saída de Roger foi um golpe forte. Foi pior porque não foi anunciado, esperado. Aconteceu de repente, sem aviso prévio. Inesperado. Explodiu no colo de todos no Estádio Olímpico, do porteiro ao presidente, do colega do jogador ao torcedor mais exaltado.

Roger dormiu gremista na quinta-feira, acordou árabe na sexta-feira. Nunca um negócio envolvendo um grande jogador do futebol gaúcho foi fechado tão rapidamente, na surdina, na boca da noite, nos esconderijo dos empresários.

Os direitos federativos do jogador pertenciam ao Corinthians, que pagava 60% dos salários do jogador (o Grêmio pagava ao meia algo como RS 60 mil). A venda rápida diminui em quase R$ 260 mil a folha mensal dos paulistas (fora encargos) _ ainda coloca algum dinheiro em caixa. Em dois anos, Roger ganha passe livre. Roger ficou rico. Roger será esquecido por dois anos, se não romper o contrato antes. Não seria o primeiro a sair correndo do Catar, país da península do Golfo Pérsico, deitado num mar de petróleo.

A própria direção gremista levou um susto, criticou asperamente Roger, se sentiu traída e achou que ele foi desleal com o clube que, digamos, o recuperou para o futebol profissional de competição. Roger errou (e feio) ao não comunicar ao presidente Paulo Odone a negociação com os árabes.

Roger agiu como a grande maioria dos jogadores agem quando alguém sacode um pacote de euros (dólares) na frente dos seus empresários. Arruma a mala e parte, às vezes jura amor eterno ao clube, outras vezes não liberam nem um abraço. Atitude mais ou menos comum no nosso futebol, praça de negócios do capitalismo selvagem. O jogador chega no estádio e, sem rodeios, diz:

_ Não jogo mais mais, não contem comigo amanhã.

Os fãs, creia, ainda estão de cabelos em pé, incrédulos, com a saída do jogador, novo ídolo e esperança, por US$ 5 milhões para o Qatar FC, de Doha (capital de 400 mil habitantes). Podem ficar ainda mais eriçados se for confirmada a informação de que Rodrigo Mendes é mesmo o novo e emergencial (só pode ser) número 10 gremista. Não há um 10 com o perfil de Roger no horizonte gremista.

Mendes ainda precisa provar, agora com urgência, que não é ex-jogador, depois de meses encostado no DM. Quem ainda tem o vigor de outros tempos. Mas mesmo reunindo (somando) todo o seu futebol exibido em um passado recente, o canhoto Mendes não é o jogador ideal para organizar o meio-campo, o time. As melhores atuações de Mendes com a camisa azul foram jogando quase como um atacante, as vezes como verdadeiro homem de frente, fazendo gols até de cabeça.

Celso Roth preferiu desdenhar a saída de Roger nas entrevistas do final da tarde. Não sei se magoado ou aliviado ou os dois somados. Preferiu dizer que o responsável pelo aparente bom momento do time é o coletivo. Meia verdade, coletivo é a base, lógico, mas os valores individuais empurram o time e fazem a diferença _ como Roger. Roth, claro, tem seu valor na montagem da equipe atual. Ninguém pode lher roubar um naco dos méritos.

É verdade, apesar das negativas dos técnicos, que uns jogadores precisam correr mais do que os outros porque têm menos talento. Roger é o tipo de jogador que não se enquadra nos ferrolhos defensivos de Roth.

Talvez sejam por razões assim que os seus times se perdem no meio do caminho. O Grêmio de Roth e Roger estava bem, freqüenta o topo da tabela do Brasileirão, apesar da derrapada no Gre-Nal.

Vamos ver se a ausência de um jogador qualificado vai ser escorada num esquema tático poderoso, diferenciado, vencedor. O decadente Botafogo carioca é o primeiro teste. Com Roger, o Grêmio ganhou dois jogos fora no Brasileirão 2008, depois de um incrível jejum em 2007. Sem ele talvez o buraco seja mais embaixo. Mas que Roger vai fazer falta, ah, vai. Vai mesmo.

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