terça-feira, 28 de abril de 2009

Nunca te vi...

Como eu chorei por você, Karla. Fiquei chocado quando soube do acontecido. Todos os sites de notícias falavam de você e os noticiários de TV também. O engraçado é que nunca te vi. Não te conhecia e agora é que não conhecerei mais. Mas naquele momento, Karla, em que lia sobre o destino que você teve, parecia que você tinha saído da minha casa. Que éramos amigos desde sempre. Que você tinha acabado de passar o fim de semana comigo e uma coisa absurda como esta aconteceu.

Fiquei pensando nos teus pais, coitados. Chorei ainda mais. E uma bola de amargor tomou conta do meu estômago. Não sabia se queria engolir ou vomitar. O sangue que corria em minhas veias provocava dor. Que coisa esquisita. Uma sensação de impotência foi tomando conta de mim. Queria gritar, espernear, jogar coisas no chão, mas de nada adiantaria. Não passaria de um protesto solitário, uma mostra de indignação, e só. As coisas iriam continuar do mesmo jeito, como de fato continuaram.

A história de Karla é curta. Ela só tinha 25 anos e estava terminando uma faculdade particular. Dava o maior duro, trabalhando durante o dia e estudando à noite. Era o orgulho dos pais. Ele, porteiro, também fazia sacrifícios para manter a filha na faculdade. E a mãe a cobria de carinhos, agradecendo a Deus a filha esforçada que tinha.

Na semana passada, Karla e os pais caminhavam de volta para casa, depois de um culto. Ela levava a bíblia e o crachá da empresa onde fazia estágio, além de uma mochila. Quem trabalha e estuda sempre carrega uma mochila, parece caracol, leva a casa nas costas.

No meio do caminho, uns sujeitos mal encarados, renderam os três. Tomaram os pertences de Karla. Ela pediu a bíblia e o crachá de volta. O marmanjo armado devolveu e ficou com a mochila. Em seguida, o mesmo criminoso foi assaltar outra pessoa que se aproximava e derrubou a mochila. Karla quis recuperá-la e, ao se aproximar, levou um tiro na cabeça.

Uma única bala bastou para acabar com a vida de Karla e com os sonhos dos pais dela. Incrédulos, olhavam a jovem no chão, a sangrar e a morrer.

O desgraçado do bandido fugiu, de mãos vazias, mas levando a alma de uma família honesta e religiosa, que nunca havia feito nada de mal a ninguém. Era Karla que estava ali, naquele momento. Mas poderia ser qualquer um de nós. Quem cruzasse com aquele ser ignóbil e maldoso iria perder a vida. Ele estava disposto a matar.

O sujeito foi preso dias depois, mas como sempre, disse que não tinha nada a ver "com a bronca". Algemado com as mãos para as costas, cabeça baixa e olhos erguidos, como um animal pronto para o ataque, só espreitava, parecia procurar uma nova vítima. Mais cedo ou mais tarde ele iria sair dali. Prisão é coisa de tempo. Basta ter paciência e um advogado. Já Karla nunca mais irá a lugar algum; não se casará; não terá filhos e não terminará a faculdade.

Foi por isso que chorei por você, Karla, mais uma vítima inocente da crueldade humana. Logo, só seus pais lembrarão de você, que não passará de mais um número na estatística da violência e uma plaquinha de bronze no cemitério.

Pena de morte já.....

Até quando?

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