terça-feira, 28 de abril de 2009

Quem vê cara....

Ela só tinha 21 anos. Era o que se poderia chamar de "patricinha" daquela cidade. Família de posses, morando no interior, teve bons professores, fez cursinho na capital, mas não passou no vestibular. Bonita feito boneca Barbie, despertava a atenção dos rapazes da região. Com pai bravo e mãe zelosa, poucos podiam se aproximar dela, que esnobava seu charme de garota interiorana que já tinha viajado para o exterior (quando fez 15 anos ganhou uma viagem para a Disney).

Aos 20, apaixonou-se por um bonitão que tinha vindo da capital, para trabalhar na única agência bancária do município. Segundo os pais dela, o rapaz tinha futuro, pois poderia virar gerente do banco. E em cidade pequena, médico, padre e gerente de banco são praticamente a nata da sociedade. Relacionar-se bem como eles dá "status".

Com o namoro aprovadíssimo pelos pais, em um ano aconteceu o casamento com glórias e pompas. A igreja foi finamente ornamentada com as mais belas rosas brancas que os floristas conseguiram colher. A música foi escolhida a dedo e executada por um conjunto que veio de São Paulo. A comida então, era "di-vi-na". Todos elogiaram a festança cujos preparativos consumiram uma boa soma em dinheiro despendida pelo pai.

Terminadas as comemorações, iniciou-se o calvário da jovem. Ela não sabia, mas havia se casado com um "monstro". No começo ele até conseguia disfarçar suas sandices, mas passados alguns meses, a máscara caiu. Enlouquecido pelo ciúme, torturava a mulher encontrando amantes imaginários. Aplicava-lhe violentas surras e a mantinha trancada por dias e noites no quarto do casal, sem ter o que vestir nem o que comer. Deixava-a nua, para impedir uma fuga e, sem alimentação, para que enfraquecida sequer tentasse escapar.

A família dela permanecia à distância, para não atrapalhar a "lua-de-mel" do casal, ignorando totalmente os sofrimentos à jovem impingidos. Por telefone e sob a orientação de seu carrasco, ela conversava com a mãe, dizendo que tudo estava bem, que o casamento ia às mil maravilhas. Apesar disso, certa noite, inquieta, a mãe teve um pesadelo. Via a filha nua, a pedir socorro, e depois sendo morta pelo genro com requintes de crueldade.

Resolveu fazer uma visita para aquietar o coração. Na manhã seguinte, preparou uma cesta de café com os doces preferidos da jovem e foi até a casa dela. Bateu várias vezes na porta, gritou, esmurrou as janelas e nada. Ninguém a atendeu. Preocupada, chamou o marido e este tratou de acionar a polícia. Arrombaram a porta e descortinaram uma cena de violência e dor.

A moça, cujo corpo estava perfurado por mais de 80 golpes de faca, jazia morta ao lado da mesa da sala, em meio a uma imensa poça de sangue. Na mão direita segurava o telefone como que, mesmo sendo uma massa disforme e sem vida, ainda tentasse pedir socorro.

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