terça-feira, 28 de abril de 2009

Striptease

Havia três dias que Marina estava tentando pagar mais uma das suas contas que pipocavam no começo do ano. Não bastavam todos os compromissos financeiros normais, como contas de luz, água, telefone, internet, seguro, condomínio, ainda tinha aquele monte de imposto sobre tudo. Qualquer dia iriam instalar aparelhos para medir o ar que as pessoas respiram e cobrar o uso dele, como se cobra o gás encanado, pensava ela. Ainda tinha aquelas dívidas feitas no Natal, para presentear parentes e das quais agora se arrependia.

Todo ano ela jurava que no Natal seguinte não iria se empolgar com a propaganda natalina e seria contida nas compras. Mas o resultado era sempre o mesmo. Gastos demais para o orçamento espremido.
Visivelmente irritada, ela entrou pela quinta vez na agência bancária, com o carnê nas mãos, para efetuar o pagamento de um imposto. Era cliente antiga e normalmente fazia suas movimentações no caixa eletrônico. Mas, por obra do destino, justamente aquele pagamento não conseguia fazer. A máquina dizia que o sistema não o aceitava.O banco tinha estado fechado, por conta de uma greve de "não se sabe quem", que naquela altura do campeonato só servia para deixar os nervos ainda mais "à flor da pele". Mas, para sua felicidade, nesta manhã a greve acabara e ela finalmente teria acesso ao caixa atendido por gente de carne e osso, para colocar seu imposto em dia. Apressada, embrenhou-se pela porta giratória e deu com o nariz no vidro. A engenhoca emperrou, apitando.

O vigilante, com jeito solícito, pediu que ela retornasse e deixasse chaves, celular, sombrinha, porta-moedas e tudo o mais que fosse de metal, dentro da caixinha transparente e tentasse de novo. Com o nariz latejando, ela obedeceu. Nova tentativa de passar e...nada.

A maldita porta não abria.

O vigilante fez com que abrisse a bolsa, praticamente revirando-a do avesso, para mostrar que não tinha mais nada de metal lá dentro, muito menos uma arma. O povo já estava se aglomerando na entrada, reclamando da demora, e o vexame foi aumentando. Mais vermelha que nariz de palhaço, Marina tentou entrar de novo. A porta travou outra vez. O sangue então lhe subiu à cabeça, e ela, aos gritos, começou a dizer: "Vou mostrar que não tenho mais nada para tirar, só a roupa. E tirou. O vestido leve foi arrancado em segundos. Para deleite de alguns clientes, ela, de calcinha, tamanco e pulseiras, ordenava que a porta fosse aberta.

Somente ao chegar ao caixa é que Marina se recompôs. Colocou o vestido, pediu desculpas aos demais correntistas, fez o pagamento do imposto e saiu, altiva, como se tivesse vencido uma guerra. Só então o vigilante percebeu que eram as pulseiras que travavam a porta. Moral da história: às vezes a solução do problema é simples e está embaixo do nariz, é só questão de enxergar...

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